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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Quem me ensinou a amar? Foi, foi marinheiro, foi os peixinhos do mar.


Ontem foi o dia do abraço (não me perguntem como e nem o porquê) e muitas pessoas nas redes sociais postaram esta famosa foto de uma garotinha apaixonada por um peixe. Digo que ela é famosa porque já roda pelo meu feed há alguns meses, sempre com intenções fofas. E ontem a imagem, repetidamente compartilhada, vinha acompanhada de frases como: "Que delícia de abraço!!"; "Feliz dia do abraço para vocês!", "Fulana, sinta-se abraçado assim por mim.", etc.

Oi? 

Ninguém reparou no absurdo da foto??



Se eu tivesse que escolher uma metáfora para ilustrar o amor errado eu nunca seria tão assertiva. Amar errado é quando uma menina ama um peixe e acha que, por isso, tem o direito de agarrá-lo.  

É claro que o contexto real da foto deve ser algo totalmente diferente. O pai da menina devia ser pescador, pegou um peixe, deixou-o morrer sadicamente saltitando pela areia, a pequena Felícia* ficou com pena (ou achou divertido) , o agarrou, a mãe achou lindo e fotografou. Ou algo parecido, não importa. O que importa é a interpretação bizarra que as pessoas fazem da cena.

-Dane-se a vida dele. Dane-se que ele tem necessidades. Ela quis abracá-lo e é isso que importa. Não é fofo?



Mês passado dei uma bronca em homens velhos e babacas que faziam carinho e beijavam a boca de minúsculos coelhinhos expostos num pet shop para serem vendidos na Páscoa (sim, pessoas equivocadas ainda compram coelhos para engambelar os filhos na data). Acima dos coelhos havia a placa "não toque nos animais", mas os caras amavam demais os peludos para se preocuparem em poupar os pobrezinhos dos seus próprios germes. Diante do meu sermão eles disseram: "Ahhhhhh, eu sei que é errado, mas eles são tão fofos!!". Gays.




Um peixe precisa de um abraço tanto quanto precisa de uma bicicleta, parafraseando a lógica que não tem autor e que rola à solta pela internet. Gostei da ideia da frase agora ser do Bono. Faz mesmo sentido um cara que canta "I can`t live with or without you" dizer uma bobagem dessas.

Podem me chamar do que for, mas acho criminoso a gente incentivar nossos filhos a aprisionar bichos para poder apreciá-los e amá-los sempre que der vontade. Hamsters, peixes, passarinhos, tartarugas, e muitos gatos e cachorros (não todos) são uns coitados adorados por pessoas egoistas e vaidosas e que se acham no direito de prender o objeto amado e ainda se divertir com isso. Já briguei feio numa pré-escola por causa dessa ridícula filosofia. A dona achava fofo ter aquário, coelhinhos em gaiolas e jabutis rotineiramente torturados por bebês. Achava que, com isso, colocaríamos a natureza ao alcance de crianças urbanas e, assim, eles aprenderiam desde cedo a cuidar dos animais.
Balela.
Experiências assim só ensinam as crianças a amar errado. Só mostram como aprisionar os amores e, muitas vezes, matá-los.

Vale dizer que a minha preocupação não é apenas com os animais e não é sobre eles que eu estou falando.

"Oncinha pintada, zebrinha listrada,
coelhinho peludooooooooo...."
(Titãs)

Me preocupo é com o sentimento equivocado de poder que ronda a humanidade.
A verdadeira educação amorosa, respeitando o parceiro e apreciando a liberdade alheia, deveria ser ensinada nas escolas desde o pré, sendo bastante enfatizada no início da adolescência.
Regra nº 1: Não, você não pode fuçar no celular do seu namorado. E nem na vida dele. Isso é errado.
Regra nº2: Se ele quer sair com os amigos você não tem que pensar se deixa ou não, porque esse é um poder que você NÃO TEM! 
Regra nº3: Se ele quiser ir embora não fique brava. Pode chorar, pode ficar com saudade e pode dizer isso a ele quantas vezes quiser (embora não devesse), mas não fique brava. Ele não é seu.
Etc, etc...


A lavagem cerebral deveria ser tão bem feita que, enfim, seria óbvio dar à pessoa amada não aquilo que você, neuroticamente, deseja, mas o que ela precisa. Aceitar a distância se ela for importante para o outro. Suportar ser abandonado e trocado se isso representar a felicidade alheia.
Puxa, é tão fundamental!
Quantas tristezas, quantos BOs e quantos crimes passionais seriam evitados se a gente ensinasse os nossos filhos a apreciarem a liberdade ao invés de se divertir com ratos correndo numa roda?





Felícia é uma menininha chata que adora os bichinhos.















2 comentários:

  1. Excelente texto e observação.
    Estamos todos ficando cada vez mais egoístas e burros, a capacidade de analisar coisas simples está diminuindo e os valores estão completamente errados. (generalizando)

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  2. Que felicidade ter de volta minha querida blogueira ! Parabens e obrigada por retomar seus textos !

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